Resumo
Mudanças socioambientais, surtos, epidemias, eventos extremos, que são fenômenos cada vez mais frequentes, acabam por exigir novas dinâmicas e práticas de trabalho. Para dar conta dessa realidade, os trabalhadores da saúde (TS) precisam dominar novos conhecimentos, associados à compreensão do contexto e a um forte comprometimento social. Sublinhamos que desastres sobrecarregam sistemas de saúde, excedendo sua capacidade de resposta. Quando ocorrem, os TS atuam em uma realidade de perdas abruptas e intensas, em curto espaço de tempo. À luz dessa perspectiva buscamos resgatar a vivência dos TS no desastre da região serrana. Trata-se de estudo exploratório, com base no Dispositivo Dinâmico de Três Polos (DD3P) proposto pela ergologia. A dialogia promovida pelo DD3P evidenciou que o grande desafio para os TS é presenciar a ruptura da vida de outros, que se complexifica, pois muitos dos trabalhadores foram afetados também. Os conflitos de normas, no encontro entre equipes locais e de fora - que agem de maneira autoritária, atropelando as relações estabelecidas no território -, ao não reconhecerem os esforços-limite realizados, ignoram as entidades coletivas que se formaram de maneira inesperada. O desrespeito às fragilidades situadas promove choques e amplia o uso do corpo-si dos profissionais. O DD3P facilita a troca de saberes, especialmente nessas situações extremas em que se tem uma ausência de normas combinada com excesso de normas gerando conflitos. A reconstrução dos saberes da experiência deve ser valorizada para ampliação da reserva de alternativas na resolução de problemas e desenvolvimento de competências para o trabalho em emergências e desastres.