Abstract
“No princípio era o ermo”. Assim
escreveram Tom Jobim e Vinícius de Moraes
na letra da música “Brasília, Sinfonia da
Alvorada”, dedicada à construção da capital.
Questionamos nesse artigo tal ponto de vista,
longe de ser um “infinito descampado”, em que
“não havia ninguém”, a região já contava com
uma longa história de ocupação humana. A
inverossimilhança de tais pressupostos constrói
no presente um discurso desistoricizante de tudo
que não corrobora essa visão reducionista. Isso
se manifesta de forma contundente no conflito
em curso entre uma comunidade indígena
residente no perímetro urbano da cidade e
grandes empreiteiras aliadas ao governo do
Distrito Federal, no tocante ao projeto de um
novo bairro: o Setor Noroeste. Situamos essa
disputa como uma continuação de um longo
trajeto colonial mascarado em um discurso
modernizante vazio de sentido histórico,
que perpetua e legitima antigas práticas de
limpeza étnica advindas desde o período dos
colonizadores.