Abstract
A linguagem tem por função “representar” a realidade, ou a realidade é fabricada por
toda uma rede de estereótipos e práticas culturais? A função das diferentes línguas é a de possibilitar a comunicação entre os seres humanos, servindo para informar e comunicar sentimentos e conhecimentos, ou elas têm um poder de ação sobre o mundo, constituem uma prática social com efeitos de transformação? Não se trata aqui de questionar o fato de que a linguagem serve como meio de comunicação. O que se questiona é uma concepção mecanicista da linguagem, segundo a qual ela seria um instrumento de comunicação neutro e indiferente às relações sociais e ao contexto sócio-histórico. A partir dessas questões iniciais, pretendemos, com este artigo, contribuir para a compreensão e análise das práticas de trabalho em saúde, mais especificamente da consulta médica, em que as interlocuções são de alta complexidade, exigindo o desenvolvimento 1 PUC-SP/CNPq 2 UNIFESP/FAPESP de uma competência discursiva adequada. Os pontos de vista aqui expostos são partilhados pelo grupo de pesquisa Atelier Linguagem e Trabalho, cujo campo de estudos está situado na área de Linguística Aplicada, área de saber muito ampla, de cunho interdisciplinar, alicerçada em problemas e preocupações do mundo real regidos pela linguagem, no caso, as relações de trabalho. Nesse contexto, nosso grupo pensa a relação linguagem e trabalho na intersecção entre a perspectiva discursiva e a perspectiva ergológica.