Abstract
A graduação em Saúde Coletiva surge de um campo de saber e práticas, distinto da saúde pública institucionalizada, e coloca em debate várias questões. Atualmente, o debate tem girado em torno da carreira do sanitarista, da regulamentação da profissão e da sua inserção no mercado de trabalho. Com o objetivo promover uma discussão sobre tais questões, incluindo a identidade profissional, a formação de sujeitos e os campos de estágio, o presente artigo analisa, criticamente, a construção desse campo científico e âmbito de práticas e suas relações com a constituição de sujeitos transformadores, comprometidos com a Reforma Sanitária Brasileira e com a consolidação do SUS. Argumenta que a identidade p ofissional é construída em processos contraditórios, não lineares, e que o mercado de trabalho não é dado a priori, mas é o resultado de lutas e da correlação de forças políticas e ideológicas que disputam o poder no âmbito da saúde. Reconhece que a Saúde Coletiva já dispõe de um acúmulo científico, histórico, conceitual, teórico, epistemológico, metodológico, técnico e operacional para sustentar um processo de profissionalização, mas problematiza a criação de um conselho específico. Ressalta que o trabalho do profissional de Saúde Coletiva apresenta dimensões técnica, econômica, política e ideológica radicadas em valores de solidariedade, emancipação, igualdade, justiça e democracia, distintos da Saúde Pública subalterna aos centros hegemônicos. Assumindo a centralidade da crítica, conclui que a Saúde Coletiva pode reorientar a sua práxis para além do sanitarismo, como resultado da radicalidade do próprio campo.References
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