Abstract
O artigo foca como o discurso da biomedicina, pautado por uma linguagem e lógica específicas, aparece nas trajetórias de casais que recorrem a serviços de reprodução assistida. A partir de pesquisa etnográfica realizada no sul do Brasil observa-se como esse discurso é incorporado ou não pelos sujeitos da pesquisa. Além disso, objetiva-se evidenciar como a forma de divulgação de certas informações pelos profissionais de saúde muitas vezes gera perplexidade e distanciamento por parte das pessoas que recorrem aos serviços de saúde. Leva-se em conta que as diferentes compreensões podem estar ligadas a classe e formação escolar, mas não podem ser definidos completamente por estes elementos. Ao tratar das diferenciadas percepções de termos, conceitos, tempos e lógica da biomedicina, será pontuada também a relação entre conhecimento e fé na construção da crença no sucesso dos procedimentos de reprodução assistida. Para todos esses elementos é central a percepção, por parte dos usuários, da hierarquia que pauta suas relações com os profissionais de saúde e como o domínio da linguagem médica pode reforçar, muitas vezes, essa desigualdade.