Abstract
O artigo reconstrui sinteticamente os principais passos da reforma psiquiátrica no Brasil, assim como as medidas que favoreceram a transição gradual, não sem dificuldades, das instituições totais para os
Centros de Atenção Psicossocial - CAPS. As transformações produzidas pela reforma psiquiátrica no Brasil no contexto mais amplo dos processos antimaniconiais de vários movimentos ao redor do mundo têm sido amplamente documentadas na literatura.
Vários autores, inclusive brasileiros, inspirados na Teoria das Representações Sociais, têm destacado nos resultados obtidos por pesquisa, as relações entre as práticas e representações sociais. O estudo ora apresentado faz parte de um programa de investigação muito maior,
hoje estendido para contexto cultural brasileiro, conduzido por de Rosa na década de 80, tendo sido objeto de recente acompanhamento 30 anos depois da reforma psiquiátrica na Itália.
A discussão dos resultados, produto de uma seleção de especialistas e de especialistas em treinamento brasileiros tem suporte em uma
relação dialógica-circular entre representações sociais e práticas utilizando uma abordagem de modelagem multi método. Da mesma
forma que observado no estudo realizado amplamente na Itália e em outros países europeus, os resultados da pesquisa no Brasil enfatizam a aparente contradição entre as representações evoluídas da discriminação par e passo com as intenções comportamentais e as práticas orientadas pela tolerância anti-estigma detectadas por instrumentos de estrutura verbal além da persistência de núcleos estereotipados com relação à loucura e ao doente mental, identificadas por técnicas projetivas gráficas
e figurativas. Os resultados também fornecem uma verificação ulterior empírica do conceito de “polifásia cognitiva”1 que revelam a coexistência de representações arcaicas e modernas, míticas e científicas, vinculadas
ao senso comum ou ao conhecimento especializado dirigido ao grande público.