Resumen
O modelo de cuidado da Estratégia de Saúde da Família pautado no papel do Agente Comunitário de Saúde (ACS) desafia a refletir sobre as condições de trabalho e sobre a saúde desse trabalhador. Destacam-se as diversas fontes de desgaste e sofrimento no trabalho e a insuficiência de métodos de apoio no cotidiano. Considerando essa fragilidade, investigou-se o trabalho de 8 agentes comunitários de saúde a partir da Técnica de Grupo Focal, buscando conhecer e analisar as fontes e os tipos de sobrecargas provenientes da atividade laboral, as condições de trabalho, o vínculo empregatício, a formação e as atribuições desse trabalhador na Estratégia de Saúde da Família. O corpus de análise consistiu na transcrição de seis sessões de grupo focal. Os Resultados produziram sete núcleos de sentidos, organizados a partir de quatro eixos temáticos: Vitaminas (motivações para exercer seu papel profissional), Espinhos (dificuldades para exercer o trabalho), Frutos (resultados observados e valorizados decorrentes do trabalho) e Ferramentas (instrumentais utilizados). Destacaram-se a relevância da estabilidade; o maior reconhecimento do uso de tecnologias leves (vínculo afetivo) do que do êxito técnico do trabalho, que está vinculado a uma ação secundária do ACS, subordinada ao procedimento médico; o duplo vínculo com a comunidade (morador e profissional de referência) tensiona a identidade do ACS. A identificação das fontes de sofrimento possibilitou problematizar localmente os efeitos para a saúde mental do trabalhador e para a qualidade do trabalho realizado. Ratificam-se as potencialidades do Grupo Focal como estratégia de investigação e intervenção na atenção básicaCitas
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília, 2011.
Dutra, VFD., Oliveira, RMP. Revisão integrativa: as práticas territoriais de cuidado em saúde mental. Aquichan. 2015:15 (4): 529-540.
Lemke, R. A., Silva, R.A.N. Itinerários de construção de uma lógica territorial do cuidado. Psicologia & Sociedade; 2013:25(n. esp.2): 9-20.
Lancaman, S. et al. Repercussões da violência na saúde mental de trabalhadores do Programa Saúde da Família. Rev. Saúde Pública, 2009, vol.43, n.4, p.682-688.
Merhy, E.E.; Franco, T.B. Por uma Composição Técnica do Trabalho Centrada nas Tecnologias Leves e no Campo Relacional. Saúde em Debate, Ano XXVII, set/dez 2003, v.27, n. 65, Rio de Janeiro.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. O trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Brasília, 2000.
Mendes, F.M. de S.; Ceotto, E.C. Relato de Intervenção em Psicologia: identidade social do agente comunitário de saúde. Saúde e Soc. São Paulo, 2011 v.20, n.2, p.496-506.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. 2009.
Costa, S.M.; Araújo, F.F.; Martins, L.V.; Nobre, L.L.R.; Araújo, F.M.; Carlos Rodrigues, C.A.Q. Agente Comunitário de Saúde: elemento nuclear das ações em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 2013, 18(7): 2147-2156.
Lima; J.C.; Moura, M.C. Trabalho Atípico e Capital Social: os agentes comunitários de saúde na Paraíba. Sociedade e Estado, Brasília, jan/abr 2005 v.20(1):103-133.
Brasil. Lei nº 10507, de 10 de julho de 2002. Cria a Profissão de Agente Comunitário de Saúde e dá outras providências. Brasília, DF, 2002.
Obregón, P.L.; Diamente, C.; Sakr, M. Contribuição na formação dos agentes comunitários de saúde. Rev. Varia Scientia, jan/jul 2009, v.09(15):45-55.
Peres, C.R.F.B.; Caldas Junior, A.; Silva, R.F.; Marin, M.J.S. O Agente Comunitário de Saúde frente ao processo de trabalho em equipe: facilidades e dificuldades. Rev Escola de Enfermagem USP 2011; 45(4):905-11.
Guanaes-Lorenzi, C.; Pinheiro. R.L. A (des)valorização do agente comunitário de saúde na Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, 2016, 21(8):2537-2546.
Silva, J.A.; Dalmaso, A.S.W. O agente comunitário de saúde e suas atribuições: os desafios para os processos de formação de recursos humanos em saúde. Interface – Comunic., Saúde, Educ. fev 2002 v.6(10):75-96,
Ferreira, V.S.C; et al. Processo de trabalho do agente comunitário de saúde e a reestruturação produtiva. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, abr. 2009 v.25(4):898-906,.
Martinez, W.R.V; Chaves, E.C. Vulnerabilidade e sofrimento no trabalho do Agente Comunitário de Saúde no Programa de Saúde da Família. Rev. Esc. Enferm. USP, 2007, v.41(3): 426-33.
Silva, A.T.C.; Menezes, P.R. Esgotamento profissional e transtornos mentais comuns em agentes comunitários de saúde. Rev. Saúde Pública, 2008 v.42(5): 921-929.
Jardim, T.A.; Lancman, S. Aspectos subjetivos do morar e trabalhar na mesma comunidade: a realidade vivenciada pelo agente comunitário de saúde. Interface. Comunicação, Saúde, Educação. jan./mar. 2009 v.13(28): 23-35.
Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 4. ed. Brasília, 2008.
Gatti, B. A. Grupo Focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Liber Livro Editora, 2005.
Gondim, S.M. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia. 2003 V.2(24):149-161.
Lervolino, A.S.; Pelicioni, M.C.F. A utilização do grupo focal como metodologia qualitativa na promoção da saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2001 v.35(2):115-121.
Minayo, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª edição. São Paulo: Ed. Hucitec, 2004.
Bachilli, R.G.; Scavassa A.J.; Spiri, W.C. A identidade do agente comunitário de saúde: uma abordagem fenomenológica. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, jan./fev. 2008 v13(1):51-60.
Vilela, R.A.G.; Silva, R.C.; Filho, J.M.J. Poder de agir e sofrimento: estudo de caso sobre Agentes Comunitários de Saúde. Rev. bras. Saúde ocup., 2010 v.35(122):289-302, São Paulo.
Queirós, A.A.L.; Lima, L.P. A institucionalização do trabalho do agente comunitário de saúde. Trab. Educ. Saúde, jul./out.2012 v.10(2): 257-281, Rio de Janeiro.
Reis, M.A.S.; Fortuna, C.M.; Oliveira, C.T.; Durante, M.C. A organização do processo de trabalho em uma unidade de saúde da família: desafios para a mudança das práticas. Interface – Comunic, Saúde, Educ, set/dez 2007 v.11(23):655-66.
Dejours, C. A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez. 1987
Mendes, A.M.; Morrone, C.F. Vivências de prazer – sofrimento e saúde psíquica no trabalho: trajetória conceitual e empírica. In MENDES, A. M.; BORGES, L. O.; FERREIRA, M. C. (Org) Trabalho em Transição, Saúde em Risco. Brasília, Editora Unb, 2002.
Rosa, A.J; Bonfanti, A.L.; Carvalho, C.S. O sofrimento psíquico de Agentes Comunitários de Saúde e suas relações com o trabalho. Saúde Soc, 2012 v.21(1):141-152, São Paulo.
Pupin, V.M. Agentes comunitários de saúde: concepções de saúde e do seu trabalho. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2008.
Figueiras, A.S.; Silva, A.L.A. Agente Comunitário de Saúde: um novo ator no cenário da saúde no Brasil. Physis Revista de Saúde Coletiva, 2011 v.21(3):899-915, Rio de Janeiro.
Dall’Agnol, C.M; Trench, M.H. Grupos focais como estratégia metodológica em pesquisas na enfermagem. Rev. Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, jan 1999 v.20(1):5-25.
Zambenedetti G, Piccinini C.A, Leite de Figueiredo Sales A.L, Mainieri Paulon S; Azevedo Neves da Silva, R. Psicologia e Análise Institucional: Contribuições para os Processos Formativos dos Agentes Comunitários de Saúde. Psicologia Ciência e Profissão 201434690-703. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282033510011. Acesso em: 10 de outubro de 2017.
Santos, P.F.; Pinto, J.R.; Pedrosa, K.A. A Educação permanente como ferramenta no trabalho interprofissional na Atenção Primária à Saúde. Tempus Actas de Saúde Coletiva. Brasília, set.2016 10(3):177-189.